A senhora do parque
Bem cedinho, dava a volta ao parque, balanceando as ancas de um lado para o outro, numa cadência que denunciava o peso da idade. Mais de 60 anos, talvez. É sempre difícil adivinhar a idade de quem carrega toda uma vida de trabalho. No dia seguinte, lá estava ela outra vez, nos seus passos decididos, percorrendo uma e outra vez o perímetro do jardim. No terceiro dia, finalmente trocámos algumas palavras. A Lucy, curiosa, aproximou-se, farejou e eu, receosa, puxei a trela rapidamente, não fosse a senhora sentir-se incomodada pela endiabrada cadela que está convencida que é o centro de mundo e todos os seres humanos à face da Terra a adoram. Mas não, a senhora esboçou um sorriso e disse que não fazia mal, que gostava de cães. Tinha muitos no seu quintal em São Tomé. E foi assim que iniciamos uma agradável conversa. Estava desvendado o mistério: era de São Tomé e veio para Portugal para fazer uma cirurgia ao joelho. Estava em casa da filha. Os passeios matinais faziam parte do programa de ...