Presença
Passaram seis anos. Ou seis séculos. Tanto faz. O tempo que nos liga às nossas raízes não é linear como o que faz o dia suceder à noite que, por sua vez, traz em si já a promessa de um novo dia.  O tempo dos nossos afetos,  por vezes, segue no sentido inverso ao da luz do sol. Ou desafia o nosso equilíbrio em espirais debaixo dos pés. Tal como hoje,  Dia Mundial do Teatro, caíu o pano e fiquei sem chão. Passei a procurar-te em mim, em cada traço físico, ou da personalidade. Em cada viagem da memória que me transporta ao tempo em que me sentava no teu colo e tu cantavas "lá em cima está o tiro-liro-liro, cá em baixo está o tiro-liro-ló..." Hoje, quando olho no espelho já não é apenas o meu rosto, é também a ti que vejo. Estás lá. Em cada expressão mais subtil, em cada  ruga traiçoeira, em cada olhar mais insuspeito.  Para sempre, pai.