Senhores do mundo
A planície a perder de vista.
No meio do mar ondulante de trigo à nossa frente, a máquina abria uma estrada até ao infinito.
Para trás ficava o chão de palha.
Do alto precipitava-se uma cascata acastanhada que deixava no ar uma nuvem de pó.  
Em baixo, o rio de trigo corria incessantemente para dentro do atrelado, qual foz de cereal líquido.
E nós, dois miúdos do alto dos nossos nove anos, fascinados com aquela engrenagem que nos fazia sentir senhores do mundo.
O pai do Eric, agarrado ao volante daquela máquina mágica, abria com destreza um sulco gigante nos campos dourados.
A memória leva-me ao tempo da debulhadora do senhor Martin, pai do Eric, transformada em parque de diversões.  Era o tempo do faz-de-conta, onde brincávamos aos índios e aos cowboys, entre fardos de palha que mais pareciam gigantes peças da Lego.
Já passou quase meio século, mas as imagens permanecem indeléveis.
Se me pedissem outro nome para a palavra infância, escolheria liberdade.

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