Porque escrevemos?
Escrever nunca foi, para mim, uma linha contínua. Uma linha muitas vezes interrompida por longos tempos de abstinência. Uma linha que, por vezes, renascia com grande intensidade e, quase sempre, coincidia com momentos menos felizes e de alguma solidão.
Em todos os workshops frequentados e os livros que li sobre a temática, aprendi que se deve escrever todos os dia: a importância da CONSISTÊNCIA. E que, para aprimorar a escrita se deve ler muito, e de estilos diferentes.
Em quase todos, a ideia que passa é de que a escrita, a boa, a que pode ser publicada, é um dom de algumas pessoas afortunadas, inacessível ao comum dos mortais.
Contudo, mais recentemente, a leitura do livro «Como escrever» de Miguel Esteves Cardoso (MEC) veio abalar toda esta construção!
Para o MEC todos podemos e devemos escrever, como se não houvesse amanhã. Ao referir-se às várias fases da escrita, começa por questionar de onde vem a ideia (a ocorrência), realçando a importância do VAZIO e do TÉDIO. É preciso o confronto com esse desconforto.
E aponta BOAS RAZÕES para escrever:
- Só escrevendo se pode saber se o resultado da escrita é bom ou não. É o leitor que julga;
- Escrever é uma maneira de nos conhecermos a nós próprios. A escrita é a maior solidão de todas. Põe-nos em contacto connosco;
- Mesmo que ninguém leia, vale mesmo a pena escrever, porque faz com que nos tornemos leitores de nós próprios;
- É uma excelente forma de chegar aos outros;
- A principal motivação de escrever é viajar, é chegar, é descobrir.
MEC faz, neste livro desassombrado e repleto de sentido de humor, muitas comparações, algumas inusitadas. Por exemplo, entre correr e escrever. Em ambas a atividade é necessário ganhar o hábito para ter bons resultados. A isso se chama consistência.
Outra comparação é entre o piloto e quem escreve, responsabilizando o último: "o piloto só tem de pilotar um avião. O ser humano, para escrever, tem de pilotar a vida inteira".
Escrever é voar. Uma tarefa que não é fácil para o ser humano.
Escrever obriga-nos a parar para pensar, ao contrário da fala que abomina o silêncio.
Mas escrever é também “uma vitória sobre a solidão, é comunicar para sempre" diz MEC.

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