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A mostrar mensagens de março, 2025

Pausa

Basta uma pausa  no frenesim dos dias que já não acrescentam. Uma caminhada até ao rio, permanecer ali de sentidos bem abertos. A sinfonia desenfreada dos pássaros, o calor dos primeiros raios de sol  que atravessam as nuvens para acariciar o rosto. O choro da água a correr, apressada,  inebriada pela abundância das últimas chuvas. Depois, repousar o olhar no verde  que inunda as margens e o coração. E  esperar pelos segredos  que o vento tem para me contar ao ouvido. Basta parar um pouco,  observar, calmamente, a vida a fervilhar. E, por fim, agradecer a beleza das coisas simples,  sob o espanto do primeiro olhar.

O Lago

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  Deslizam suavemente na superfície líquida e transparente do pequeno ribeiro. Mergulham ambos, ritmadamente. Agitam a cauda, abrindo um leque de água e purpurinas, ensaiando uma dança ancestral. Afundam o bico em cada pena, por baixo das asas, num ritual tão sagrado quanto banal. Lado a lado. Ele, de cores vibrantes entre o verde-esmeralda e o azul-safira, exibindo no pescoço um colar branco. Ela, igualmente elegante, salpicada de tons acastanhados. Embora não seja possível calar o ruído da via rápida aqui ao lado, abstraio-me e, por momentos, dou por mim no lugar mágico da minha infância. Tinha 6 ou 7 anos. Durante as férias, acordava cedo, levava uma sandes e um banquinho para junto do lago e sentava-me a observar, maravilhada. À volta do lago cresciam lilases que, na primavera, perfumavam o ar. Fecho os olhos e sinto ainda o aroma delicado e inconfundível. Os arbustos eram altos e cresciam em direção ao centro do lago, numa abóboda que filtrava os raios de luz, tornando-o s...

Rio de palavras

As palavras correm apressadas nas suas sílabas, através das margens do poema.   Uma atrás da outra, no fluxo acidentado das entrelinhas.   Mantêm-se à tona, apesar das represas onde se precipitam, antes de chegarem ao mar da memória.   Levam, nas suas conchas fechadas, o peso das pedras e as feridas abertas, mas também a doçura das cerejas aquecidas pelo sol.   Depois, desaguam, líquidas, na planície da escrita, à procura do sentido da vida, na voz dos poetas.