Caminhada
  Olho para trás e vejo uma extensa planície entrecortada por montes e vales, aqui e além. Muitas foram as paisagens onde me detive para absorver sofregamente a primeira luz da manhã ou saborear, devagar, o último raio de sol. Com os pés descalços sobre o pó da estrada, de mão dada com a esperança, abri caminhos de amor que se perderam nos becos lamacentos. E porque a vida nos ensina a acolher a surpresa, a minha travessia do deserto presenteou-me com a possibilidade de me renascer ao dar à luz. Depois, foi tempo de contruir o caminho a três, na dureza dos dias, mas sempre com a esperança de um amanhã luminoso. Passo a passo, eis-me a iniciar a sexta década de vida, com toda a aprendizagem a que a vida me obrigou, mas com a vontade serena de prosseguir nos sonhos que me acalentam as noites mais frias e o doce afago das minhas pessoas por perto. Valeu a pena chegar aqui e vai valer a pena continuar a caminhar, aberta à certeza do desconhecido que a vida tem por me revelar.